sábado, 28 de agosto de 2010

Às vezes algo nos rouba o chão.

Depois de um tempo você descobre... quando deve falar e quando deve ficar quieta, que um abraço é mais importante que qualquer coisa, que não devia se beijar por números, que amor não é vício, que desculpas servem, que ter personalidade é mais do que se parece ser, que olhares tem que ser verdadeiros, que todo mundo devia ter ao menos uma chance de mostrar o quanto é especial, que comentar algo ruim de alguém sem conhecer é burrice, que odiar é perda de tempo, que chorar faz parte, que crescer não é idade e sim pensamento, que seus pensamentos mudam sua vida, que saudade é preciso, que orgulho é necessário, que consciência é tudo. Descobre que sorrir é o melhor remédio, que calor é péssimo e dormir é muito bom. Descobre que inútil é sorrir querendo chorar, abraçar não gostando e olhar com desprezo, inútil se sentir melhor que alguém, inútil tentar ser. O bom mesmo é conseguir, bom mesmo é ser feliz. Você não precisa de mais ninguém pra ser feliz, a felicidade, ela vem de você. São coisas que só se aprendem com o tempo, que só você pode sentir. Você só vai saber como é difícil quando for machucado por alguém, quando alguém te ferir com tudo que puder, quando alguém te fizer sentir só mais uma. Você já parou pra pensar a diferença entre sentimento e vontade ? Se não, acho que devia. Hoje eu pensei muito nessas duas palavras com significados totalmente diferentes mas que podem ser totalmente iguais muitas das vezes. Sentir algo por alguem é querer aquela pessoa, desejar de alguma maneira delicada os carinhos dela, agora ter vontade de estar com alguem por mais parecido que seja é muito diferente. Quando você gosta de alguem, você pensa naquela pessoa e seus olhos brilham, você pensa em todos os momentos juntos da melhor maneira possivel, agora, quando você sente vontade de estar com aquela pessoa, tem desejos pelos seus carinhos, sente arrepios, as vezes até um certo calor, isso é mais coisa de corpo e não de sentimento. É por isso que muitas das vezes nos magoamos, nós mesmos confundimos sentimentos, vontades, coisas diferentes umas das outras. Para se satisfazer com uma pessoa nao é preciso ama-la no momento em que se conhecem, isso vem com o tempo, as vezes nem vem. E muitas das vezes você pode perceber que o seu desejo ou sua vontade foram totalmente saciadas sem nenhum envolvimento com seu coração, sem nenhuma dor. Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor e porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo à luz. E, à medida que se acostuma se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto. A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Acostuma-se para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

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